quinta-feira, 24 de junho de 2010

Parte de mim


“ Havia um tempo em que o crepúsculo me atraía.

Era quando eu preferia ver-me por entre aquela claridade fraca – resquício de luz que persiste ao ocaso do sol.

Meu coração assemelhava-se aquela flor, escondida por entre as rochas e minha alma era como as pétalas fechadas em si mesmas... Não havia beleza que se pudesse contemplar, pois o que está oculto, como pode ser contemplado?

Pai Nosso e amor que tomo por meu, já conhecias esta beleza escondida em mim, já me admiravas como parte de Tua criação, sem que eu sequer percebesse o teu olhar a me amar!

E eu, não me percebia, seguia sem me sentir. Como podia então te amar e te sentir? Simplesmente, não sentia.

Ensimesmada, inclinada ao chão, via apenas passos; passos que me conduziam a algum lugar.

Pensando eu não ir a lugar nenhum...

Por entre as linhas de uma existência silenciosa, fostes tecendo um trajeto de amor, que hora ou outra, me conduziriam a um único lugar: o teu coração.

E tudo foi assim...perfeito demais. Você veio em minha direção e eu seguindo distraída pelo caminho. Esbarro em ti e quando penso em pedir desculpas, lanças em mim teu olhar de eternidade, dizendo: Pede desculpa não, fiz de propósito!

E assim, num momento de minha história, desviastes o meu olhar do nada, olhei rapidamente a mim e cheguei, finalmente, a ti. Fulguraste em arroios de ouro por entre as sendas deste humano e frágil coração.

Por vezes, pergunto-me: Como posso ser a imagem e semelhança do teu ser? Sei apenas que sou semelhança do Amor pelo qual o amor foi gerado em mim!

Tu me sonhavas? Sim...

Tu me amavas, mesmo quando te ignorava?Sempre...

Então, quando em meio ao crepúsculo eu estava, existias; mas eu não te sentia. Não tinhas consistência para minha existência.

E aí, naquela comum manhã, apareceste na janela da minha alma, declarastes o teu amor e até hoje ainda consegues me deixar sem graça assim...

E assim, no silêncio dos dias que seguem, em tudo vejo a gentileza do teu amor se refletindo em vida para mim.

Quando as palavras emudecerem, quero que olhes para mim e ouças o meu coração que, a cada batida, declara-te amor.

Amor tecido de imperfeições e limitações, mas que mesmo assim quer amar.”

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